CIGANOS IMORTAIS

FEDERICO GARCÍA LORCA, um dos mais reconhecidos POETAS do mundo, cigano espanhol do grupo Kalon, nasceu em 06 de junho de 1898 em Fuente Vaqueros (Granada). Foi uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. Fuzilado em 18 de agosto de 1936, aos 38 anos de idade, seu corpo até hoje não foi localizado. Seu assassinato chocou a opinião pública mundial. O escritor Ernest Hemingway, em seus escritos, sensibilizou numerosos leitores para o drama da Espanha republicana.

Muitos ciganos, escritores de vários países se tornaram imortais por suas obras. Entretanto, no que conserne a ser  “mundialmente conhecido”, creio que é  Lorca.  Com a publicação de “Romanceiro Guitano” (1928) seu nome ganhou projeção mundial. Sua paixão pelo seu povo é manifestada principalmente nesta citação:

"BENDITO SEA POR SIEMPRE LA GENTE GITANE!” 

De “Romance da Guarda Civil Espanhola” reproduzo as 2 últimas estrofes:

 

Oh! Cidade dos gitanos!

A Guarda Civil se afasta

por um túnel de silêncio

enquanto as chamas te cercam.

Oh! Cidade dos gitanos!

Quem te viu e não te lembra?

que te busquem em minha fronte.

Jogo de lua e de areia.”

 

O DESCOBRIDOR DA AMÉRICA 

ERA CIGANO!

Com a palavra, G.L. Santos Ferreira e Antonio Ferreira de Serpa, comentadores da obra de Dom Tivisco: 

“Seu verdadeiro nome era SALVADOR GONSALVEZ ZARCO, que “morrera” no dia em que saiu de Gênova e nela “nasceu” o vagabundo Cristobal Colón, o homem sem pátria e sem família - mais tarde o maior do mundo, no seu tempo”.

Encontramos na obra misteriosa do Prior Dom Tivisco de Nassáo, intitulada “Salvador Gonsalvez Zarco”, no trecho principal do capítulo I, ao qual o autor dá o nome de “Servindo de Introdução”, esta narrativa:

 Uma grande preocupação dominou o espírito do famoso descobridor do Novo Mundo até a hora da sua morte: a de ocultar qual era a sua pátria e o seu nome. E se uma vez afirmou “haver saído de Gênova e ter nascido nela”, não deve concluir-se daí, que fosse genovês, ou mesmo italiano de nação; pois, nesse caso, teria de admitir-se que, ao passo que cercava do maior mistério a sua personalidade e origem, ele próprio as denunciava espontaneamente, por inconcebível leviandade”.

Ambos os comentadores do prior Dom Tivisco de Nassáo, procuram PROVAR que Salvador Gonsalvez Zarco era “cigano de origem portuguesa, pouco importando que o pai tivesse sido um nobre, de sangue ao mesmo tempo português e castelhano...”

 

"RAINHA DOS CIGANOS" 

Esma Redžepova-Teodosievska (08-08-1943). Cantora, compositora e humanitária. Por seu repertório prolífico, que incluía centenas de canções, por sua contribuição para a cultura cigana e sua promoção, foi apelidada de “Rainha dos Ciganos”. Adolescente, começou a cantar na década de 1950, estendendo sua carreira por mais de 5 décadas. Seu sucesso musical estava intimamente ligado a Stevo Teodosievski (seu marido), que era compositor, arranjador e diretor do conjunto musical “Ansambl Teodosievski”. Ele escreveu muitas das canções de Esma e administrou sua carreira até sua morte (1997). O estilo musical de Esma foi inspirado principalmente pela música tradicional cigana da Macedônia. Começou sua carreira em um período em que a música cigana era muito denegrida na Iugoslávia e os ciganos consideravam vergonhoso que as mulheres cantassem em público. Redžepova foi uma das primeiras cantoras a cantar em língua romanino rádio e na televisão. Era particularmente conhecida por sua voz poderosa e emocional. Em 2010, foi citada entre as 50 grandes vozes do mundo pela NPR . Redžepova também se destacou por seus trajes extravagantes e seus turbantes, bem como pelo uso que fez de estereótipos típicos sobre as mulheres ciganas (como sensualidade e felicidade). Também Em 2010, foi premiada com a “Ordem do Mérito da Macedônia” e em 2013 foi nomeada “Artista Nacional da República da Macedônia” pelo Presidente Gjorge Ivanov . Com o marido Stevo criaram 47 crianças ciganas e recebeu inúmeros reconhecimentos por seu trabalho humanitário. Ela apoiou os direitos dos ciganos e das mulheres e também esteve envolvida na política local em sua cidade natal (Skopje).

Redžepova nasceu em Skopje, na época anexada ao Reino da Bulgária,  embora a região tenha sido devolvida à Iugoslávia em 1944. Ela era a segunda mais nova de 6 filhos de uma família cigana de Toopana. Seu avô paterno era um cigano católico e sua avó uma judia iraquiana. A mãe era cigana muçulmana de Šuto Orizari. Outras fontes dizem que ela nasceu em uma família cigana muçulmana (grupo Xoraxane) pobre. 

Esma faleceu (após uma curta doença) em 11-12-2016, aos 73 anos, em Skopje (atual Macedônia do Norte).

O CIGANO QUE FOI QUASE TUDO

Capitão Sir” Richard Frances Burton (chamado de “o ciganinho”). Escritor, tradutor, linguista, geógrafo, poeta, antropólogo, orientalista, erudito, espadachim, explorador, agente secreto, diplomata, cientista, explorador e aventureiro, poliglota (falava 29 línguas inclusive o Romani, além de inúmeros dialetos). Nascido em Torquay (Devon) em 19 de março de 1821, faleceu em Trieste (Austria-Hungria) na manhã de 20 de outubro de 1890. Entre suas inúmeras aventuras, viajou a cidade sagrada de Meca, (mortalmente proibida a não muçulmanos, disfarçado de afegão, e também a Harar, capital da Somália, de onde nenhum outro homem branco havia saído com vida) e junto com John Haning Speke explorou a região dos Grandes Lagos africanos descobrindo o lago Tanganica. (Recomendo o filme “As montanhas da lua”). Também foi consul no BRASIL em 1825. Após sua morte, o jornal “The Gypsy Lore” (edição de 1891) em seu obituário registrou: “A singular idiossincrasia frequentemente notada por seus amigos - a peculiaridade dos seus olhos-. “Quando ele [o olhar] fita a pessoa”, disse alguém que o conhece bem, “ele atravessa e depois, se toldando, parece ver algo mais além”. Burton escreveu um trabalho intitulado “O Olhar Cigano”. É praticamente impossível resumir aqui 40 anos de viagens e aventuras desse cigano. 

Burton e sua esposa Isabel estão sepultados em uma tumba em forma de tenda em Mortlake (Inglaterra).

 HERÓIS DE GUERRA

Historicamente os ciganos são um povo calmo, de paz. A guerra não faz parte dos nossos sentimentos, sendo evitada sempre que é possível. Entretanto, quando não houve nenhuma escolha, estivemos prontos para servir ao Estado ao qual pertencíamos. Temos conhecimento de que ciganos brasileiros também participaram da II guerra mundial. Um deles, da família Toscano (Italiana) chegou à patente de Marechal). Aqui apresento alguns heróis ciganos de guerra, que foram leais aos seus países. Muitos foram também os ciganos russos heróis de guerra. Também muitos perderam suas vidas lutando contra os exércitos nazistas; outros assistiram a vitória dos aliados no fim da II Guerra Mundial. Todos merecem de nossa parte um registro honorável. Infelizmente não sabemos o nome de todos. Assim só mencionarei alguns deles, como “representantes” de todos. Vejamos antes três registros bem antigos:

-1380: um registro não muito objetivo deste ano diz: “... Guarnições militares ciganas estão estabelecidas ao sul da Peloponnesia” (Grécia);

-1444: um documento de Veneza descreve uma “comunidade militar de ciganos” estabelecida em Nauplia, cujo líder, tratado como “drungus ciganorum” é chamado de “Johannes Cinganus” (John, o cigano);

-1452: uma companhia militar de “saracenes” ou “egípcios da Irlanda” é relatada em Galloway, na Escócia.

 

GUERREIROS

- Aleksander Baurov nasceu em São Petersburgo, em 23/03/1906 e faleceu em 8/ 02/1972.  Vindo de uma família de artistas, músicos e cantores, desde criança manteve sua tradição, executando em sua guitarra músicas ciganas no colégio. Em face às dificuldades financeiras precisou encontrar outra profissão, graduando-se em Eletromecânica e trabalhando como assistente de laboratório. Quando da II Guerra foi enviado ao “front” em 1941, e lá tocava guitarra para os companheiros nos momentos do descanso. Por suas habilidades profissionais foi promovido a oficial e comandou a 1ª Divisão Aeronáutica. Condecorado com a “Ordem da Estrela Vermelha” e da “Bandeira da Batalha” recebeu também a ordem de “Alexandre Nevsky” (muito rara e honorável) por ter cruzado o rio de Oder com seu pelotão. Também recebeu a “Cruz Polonesa de Valor”. Participou ativamente da derrota do nazismo na conquista vitoriosa de Leipzig. Permaneceu no exército de 1949 a 1955 no posto de Tenente-Coronel do corpo da engenharia. Foi um dos primeiros soviéticos a criar e lançar foguetes.

 - Piotr Amidzhanovich, Abdisha Olyevich, Montii Olyevich Sejdamet Olyevich, todos procedentes de famílias ciganas de Kazybeyevikh. Receberam honrosas condecorações da guerra.

 - Mikhail Dmitriev lutou durante toda a guerra até o triunfo do exército soviético em Berlim.

 - Grigori Petrovich Kuznetzov participou da libertação da Polônia e da Checoslováquia, recebendo uma medalha por sua coragem.

- Vasily Alekseyevich Mushtakov, como piloto, lutou pela libertação de Budapeste e morreu em combate na batalha de Stalingrado. Foi condecorado por bravura.

- Zaikin Vasily Zakharovich lutou até o final da guerra e morreu no campo da batalha indo ao encontro aos alemães.

- Aeksandrovich Sergunin é um herói de épocas modernas. Tenente e advogado restaurou a lei civil na República do Chechen, tentando por todos os meios fazer que a maneira diplomática prevalecesse sobre as armas. Também promoveu a criação de centros da reabilitação no Kazakistão e fez prevalecer a legalidade dos direitos dos cidadãos na região. Também era escritor em língua Romani.

- Miroslav Zima chegou à patente de major. Ele entrou para o Exército tcheco aos 18 anos de idade.

O "PAI" DO JAZZ

DJANGO REINHARDT

Jean-Baptiste Reinhardt foi o 1º e ainda o maior músico de jazz europeu. Pertenceu ao numeroso grupo de ciganos Sinto (Eftavagarya - alemães). Mesmo depois de ter 2 dos dedos de sua mão esquerda seriamente comprometidos por um acidente (que o forçou a desenvolver uma técnica própria) executava excelentemente violino, violão e banjo. Seu estilo particular também está definido como “Jazz Cigano.” A família Reinhardt conta com excelentes músicos de jazz , entre eles os violinistas Schukarnak Reinhardt e Martin Weiss, e os guitarristas Babik Reinhardt, Hänsche e Maurice Weiss. Jean "Django" Reinhardt nasceu em Liberchies (23-01-1910 e faleceu em Fontainebleau (16-05-1953). Francês nascido no centro-sul da Bélgica  é considerado um dos melhores e mais influentes guitarristas de todos os tempos, tendo influenciado inumeráveis músicos e inovando ao ajudar a criar o estilo ”gypsy jazz”. É tido como o pai do jazz na Europa, e também um dos primeiros músicos não negros nesse estilo musical. Acompanhou sua caravana até chegar aos arredores de Paris e nessa cidade, começou a tocar banjo aos 12 anos de idade. Em sua 1ª gravação conhecida (1928) ele toca o banjo. Fez enorme sucesso posteriormente com o Quintette du Hot Club de France. Django faleceu vítima de uma hemorragia cerebral.

BÉLA VIKTOR JÁNOS BARTÓK

Nasceu em Nagyszentmiklós nasceu na Hungria (25-03-1881) e faleceu em Nova Iorque (26-09- 1945). Compositor, pianista, professor e pesquisador de música popular. É considerado, junto a Franz Liszt, um dos maiores compositores da Hungria. Acompanhado de Zoltán Kodály realizou expedições de coleta de folclore, tendo registrado e catalogado milhares de canções e peças instrumentais da Europa Central e Oriental, da Turquia e da Argélia. Como pianista foi um virtuoso de renome internacional e um pedagogo influente, principalmente pela obra didática para piano ”Mikrokosmos”. Foi uma figura central na música erudita do século XX e um dos fundadores da musicologia comparativa, área de estudos que deu origem mais tarde à etnomusicologia.

CAMARÓN DE LA ISLA

(Estátua de Camarón em La Línea de la Concepción)

José Monje Cruz, nasceu em 5-12-1950 (San Fernando, Espanha) e faleceu aos 41 anos (02-07-1992) em Badalona (Espanha). Popular cantor de flamenco o seu tio José alcunhou-o de “camarão” por ser louro e ter a pele muito branca. Aos 8 anos começou a cantar nas paragens dos transportes públicos e à porta de tabernas para ganhar dinheiro. Aos 14 entrou no filme “El amor brujo” com António Gades”. Dois anos mais tarde ganhou o 1º prêmio no “Festival del Cante Jondo” em Mairena de Alcor. Mudou-se para Madrid e em 1968 tornou-se artista residente em “Torres Bermejas Tablao”, permanecendo por 12 anos. Foi então que conheceu Paco de Lucía, com quem iria gravar 9 álbuns entre 1969 e 1977. Os dois fizerem imensas digressões durante este período. O 1º disco sem Paco de Lucía (“La leyenda del tiempo”), lançado em 1979, é até hoje considerado um marco do flamenco, aproximando-o de gêneros como o rock e o jazz. É também a partir desse disco que abrevia seu nome artístico para somente ”Camarón”.

P R E S I D E N T E S

BIL CLINTON:

 

Nasceu em 19-08-1946, no Hospital Julia Chester, na cidade de Hope (Arkansas). Seu pai, o texano William Jefferson Blythe Jr. (1918–1946), era vendedor ambulante e morreu em um acidente de carro 3 meses antes dele nascer. Pelo lado paterno, ele é descendente de CIGANOS escoceses, irlandeses e ingleses, que se estabeleceram no país antes mesmo da independência. Logo após ele ter nascido, sua mãe, Virginia Dell (1923–1994), se mudou para Nova Orleães para estudar enfermagem. Deixou o filho com os avós, Eldridge e Edith Cassidy. Naquele período, o Sul dos Estados Unidos era muito segregado racialmente. Em 1950, a sua mãe voltou e se casou com Roger Clinton, Sr. Embora ele tenha assumido quase imediatamente o uso do sobrenome de seu padrasto, foi só quando “Billy” (como era chamado) chegou aos 15 anos que ele adotou formalmente o nome Clinton.

Nascido como WILLIAM JEFFERSON BLYTHE III, foi o 42º presidente dos Estados Unidos por 2 mandatos (entre 1993 e 2001). Tomou posse aos 46 anos, sendo o 3º presidente mais jovem na data em que tomou posse.

Em 1997 o ex-presidente CLINTON  declarou-se CIGANO. No mesmo ano, indicou o também cigano IAN HANCOCK (linguísta da Universidade do Texas) para o “Conselho Memorial do Holocausto”.

Assinatura de Bill Clinton