O CIRCO E OS CIGANOS
OS CIGANOS “SALTIMBANCOS”?
“E lá vão eles: o circo e os ciganos,
de antiqüíssimas e comuns origens,
eternamente jovens, vivos...”
O CIRCO... O PALHAÇO...
O RISO... E O ESPÍRITO.
A palavra circo é de origem latina. Quer dizer simplesmente círculo. Trata-se de um local circular ao redor do qual um grupo de pessoas se reúne para assistir um espetáculo de variedades. Apesar de ter diminuído bastante, todo mundo sabe o que é um circo. Embora exista desde a antiguidade, o modelo de como o conhecemos hoje é do século 18.
O personagem principal do espetáculo é, com certeza, o palhaço. A figura, cuja origem também remonta a antiguidade, tem o intuito de provocar riso. Embora não se saiba ao certo quando realmente surgiu, sabe-se que já existia no Egito antigo. Tornou-se popular na Idade Média, sendo neste momento conhecido como ”bufão!. Geralmente, se apresentava em feiras para entreter a população das cidades ao fazer troças com as notícias do momento e com as figuras locais. A versão dos castelos ficou conhecida como !bobo da corte” e buscava animar o rei e seus cortesãos. Aqui seu trabalho é mais delicado, embora gozasse de alguma liberdade para as suas brincadeiras. Alguns “bobos da corte”, por estarem tão próximos dos reis, tornaram-se seus confidentes e até mesmo conselheiros para assuntos de relevância. Era geralmente detestado pelos cortesãos, por estar numa posição de afeição do rei e por ele protegido.
Para além do palhaço, outros elementos tornaram-se essenciais nas apresentações promovidas no circo (malabaristas, contorcionistas, mágicos, engolidores de espadas, trapezistas e equilibristas). Muito populares foram os domadores de animais (hoje não mais apreciáveis, uma vez que se considera tal atividade mal trato com os bichos). Até pouco tempo, os animais estiveram presentes nos circos, desde aqueles exóticos, como uma espécie de exibição a quem nunca os tinham visto, como também animais domésticos adestrados (cães, cavalos ,aves...)
O Circo, uma tenda coberta com uma lona com arena rodeada por arquibancadas em madeira, também é uma versão medieval. As cores destas tendas também são importantes. Podem ser listradas com cores chamativas ou com desenhos de estrelas, lembrando que o que ali se passa faz parte da dimensão onírica, do sonho e da fantasia. Os artistas viajavam de cidade em cidade para se apresentarem e levar alegria por onde quer que passassem. Há de se lembrar que também apresentações teatrais, assim como musicais sempre fizeram parte dos programas dos circos.
Devemos destacar que a arte circense era tolerada pela Igreja. Inclusive há muitos casos em que se realizavam apresentações diante dos templos e até mesmo em seu interior. Algumas festas de santos e outros dias de preceito eram alegrados com artistas circenses. O auto, teatro musicado e ritmado com poesia, seguindo um tema bíblico ou religioso, tem também muitas influências do circo.
Os artistas de circo têm um padroeiro, na verdade dois: São Filomeno e São Genésio, que foram palhaços no século IV, durante o Império Romano. Com a conversão ao cristianismo, foram martirizados a mando do imperador Diocleciano (c. 243-311).
Com o passar do tempo as atrações e a maneira de se apresentar foram se modificando. Atualmente, o circo se modernizou a as apresentações das companhias ganharam ares de superproduções temáticas, com efeitos especiais e artistas diversos, embora se tenha conservado algumas modalidades tradicionais.
O CIRCO ESTÁ VIVO...
Mas precisa ser mais conhecido e amado. Há não muito tempo, em festas de padroeiro e comemorações cívicas, muitas cidades eram visitadas pelo circo, assim como os parques de diversões. Os ”saltimbancos” paravam em lugar um pouco distante. Os componentes se paramentavam (como para o espetáculo) e os carros e caminhões multicoloridos entravam na cidade. Era aquela festa, uma apresentação para atrair os moradores, principalmente as crianças. O circo exibia o que tinham a oferecer. Alguns artistas iam a pé. Dançarinas, homens com pernas de pau a fazer malabares faziam também parte das atrações. E, claro, o colorido do palhaço, que, muitas vezes a fazer suas estripulias e algazarras, ajudava a chamar ainda mais os olhares. E seus nomes com voz engraçada são os melhores: Piolin, Arrelia, Faísca, Pirulito, Amendoim... provocaram muitas gargalhadas por onde passaram.
Há de se lembrar também que em nossas tradicionais Folias de Reis, nas diversas regiões do Brasil, o palhaço está lá, assim como também em reisados, pastoris e outros folguedos. Nas cidades se tornaram populares dentro dos hospitais, seguindo a técnica do riso que cura, empreendida pelo espetacular médico americano Patch Adams, eternizado no cinema pelo saudoso Robin Williams (1951-2014), popularizando por todo o mundo o primoroso trabalho dos “doutores da alegria”.
A alegria transmitida pelo palhaço e pelas demais atrações circenses é também uma manifestação da espiritualidade, pois a alegria sincera que dela emana só pode vir de Deus. É também rezar com o sorriso largo, é dar aquela gargalhada contagiante como se o Espírito Santo estivesse pairando no ar.
(Dom João Baptista Barbosa Neto, OSB)
26 MAR 2021 - 09H12 (Atualizada em 26 MAR 2021 - 15H20)
Breve registro da valiosa contribuição dos CIGANOS para o circo no Brasil:
Indutora do lúdico, mas vista com desconfiança sob a alegação de estar associada à transgressão das normas sociais, a ocupação de SALTIMBANDO esteve relacionada aos CIGANOS antes mesmo que chegassem à Europa. De forma ambígua, embora estivessem individualmente estigmatizados negativamente enquanto artistas, os ciganos eram muitíssimo apreciados. Curioso é que os mesmos que os aplaudiam enquanto artistas rechaçavam-os enquanto indivíduos.
No final do século XIX, ciganos chegados da Europa Central e dos Balcãs trouxeram para o Brasil URSOS e ANIMAIS EXÓTICOS (inexistentes na fauna brasileira) capazes de atraírem multidões de curiosos. Eram ciganos do subgrupo dos URSARI, especializados no adestramento de ursos. No interior de Minas Gerais tornaram-se famosos os chamados “URSOS DE CIGANOS”, que dançavam canhestramente ao som do pandeiro e do canto monótono do boêmio, que o segurava por uma corrente presa à argola do focinho.
